O PCP decide em função da sua independência
e com base na sua experiência

Um Partido com rumo<br>e projecto

Jorge Cordeiro (Membro da Comissão Política)

A vi­ru­lenta ofen­siva ide­o­ló­gica contra o Par­tido não cons­titui sur­presa. Ela seria, por si só, tão na­tural quanto o ter­reno em que se de­sen­volve e as con­di­ções de luta numa so­ci­e­dade de classes com in­te­resses an­ta­gó­nicos, mas re­for­çada no nosso País por essa re­a­li­dade ina­pa­gável de uma re­vo­lução que tocou fundo nas es­tru­turas sócio-eco­nó­micas do ca­pital mo­no­po­lista e para a qual o PCP jogou papel de­ci­sivo.

Ofen­siva tão mais aguda quanto a per­cepção pelo grande ca­pital do peso e in­fluência po­lí­tica e so­cial do Par­tido, da co­e­rência da sua in­ter­venção, da sua li­gação às massas, da sua iden­ti­fi­cação com os in­te­resses dos tra­ba­lha­dores e do povo e, so­bre­tudo, da con­tri­buição efec­tiva que o PCP as­sume na de­fesa e afir­mação dos seus di­reitos.

São múl­ti­plas as ex­pres­sões e os pre­textos desta ofen­siva ide­o­ló­gica. Nela con­vergem o os­ten­sivo si­len­ci­a­mento e a tra­ba­lhada fal­si­fi­cação de po­si­ções, a fa­bri­cada ca­ri­ca­tura do que somos a par da di­li­gente pro­moção de ter­ceiros. Para ela con­tribui o an­ti­co­mu­nismo mais boçal com o hábil se­meio do pre­con­ceito; a acu­sação e o in­sulto mais gros­seiros com o quase co­mo­vente acon­se­lha­mento sobre o que o PCP devia ser e fazer; a con­fusão entre falta de rasgo e se­ri­e­dade ou re­pe­tição e co­e­rência.

Com va­ri­antes di­versas mas com idên­tico ob­jec­tivo, a ofen­siva ide­o­ló­gica aí está, su­por­tada no coro me­diá­tico ao seu ser­viço, na vasta tribo de for­ma­dores de opi­nião, nos va­lores ge­rados pelo modo de pro­dução do­mi­nante con­fir­mando o papel deste no pre­do­mínio da ide­o­logia a que dá forma.

O an­ti­co­mu­nismo e a ofen­siva ide­o­ló­gica a ele as­so­ciado serão tão mais in­tensos quanto agudo for o con­fronto de in­te­resses de classe, quanto mais de­ter­mi­nante for o papel do PCP no com­pro­me­ti­mento da ordem es­ta­be­le­cida em be­ne­ficio do ca­pital mo­no­po­lista. Não per­doam o facto de mil vezes de­pois de re­pe­tirem o seu de­sa­pa­re­ci­mento e de­clínio ir­re­ver­sível, o PCP estar vivo e re­for­çado; de mil vezes de­pois de o acon­se­lharem a deixar de ser o que é, o PCP manter a sua na­tu­reza de classe, o seu pro­jecto e ob­jec­tivos; de mil vezes de­pois de o apre­sen­tarem como mero par­tido de pro­testo, o PCP se afirmar como é, par­tido de luta, pro­posta e pro­jecto para o País. E so­bre­tudo não per­doam que, mal grado todos os es­forços para o re­duzir a algo pres­cin­dível, o PCP tenha ou­sado ins­crever a pos­si­bi­li­dade de ques­ti­onar a ordem es­ta­be­le­cida pelo grande ca­pital, abrir pers­pec­tivas de so­lu­ções di­versas das pro­cla­madas como imu­tá­veis, atrever-se a iden­ti­ficar como pos­sí­veis ou­tros ca­mi­nhos e op­ções.

É essa a razão prin­cipal da brutal ofen­siva ide­o­ló­gica em curso. Tudo o resto, re­sul­tados elei­to­rais re­centes ou ale­gados des­lizes na men­sagem, são pre­textos. O re­cru­descer da ofen­siva an­ti­co­mu­nista é in­se­pa­rável da nova fase da vida po­lí­tica na­ci­onal, in­se­pa­rável do re­van­chismo de sec­tores que temem ver postos em causa, por mais li­mi­tado que seja, os seus in­te­resses de classe e as con­di­ções para man­terem, no nível a que as­piram, as con­di­ções de acu­mu­lação ca­pi­ta­lista, de ex­plo­ração e em­po­bre­ci­mento.

Com­pro­misso, pro­jecto e ideal

É vê-los a atacar o PCP em nome de uma ale­gada con­tra­dição entre o seu ac­tual po­si­ci­o­na­mento e os seus prin­cí­pios pro­gra­má­ticos e ob­jec­tivos de luta. É vê-los, uns a acon­se­lhar o PCP em nome da sua co­e­rência a fa­ci­litar o ca­minho de re­gresso a PSD e CDS, ou­tros a sen­tenciá-lo ao aban­dono da sua ori­en­tação em função do pre­sente.

Co­nhecem mal o PCP os que julgam, para lá dos efeitos não su­bes­ti­má­veis de tanto an­ti­co­mu­nismo, poder con­duzi-lo a de­cidir por in­te­resses de ter­ceiros. Ajui­zamos em função da nossa in­de­pen­dência de classe, com a se­gu­rança da nossa con­vicção, com base na nossa ex­pe­ri­ência de luta, com plena cons­ci­ência da exi­gente ar­ti­cu­lação entre o tác­tico e o es­tra­té­gico que sem pres­cindir do ob­jec­tivo ul­te­rior não pres­cinde de todos os avanços e re­sul­tados quer na luta quer na in­ter­venção po­lí­tica, não se­pa­rando o nosso com­pro­misso de sempre com os tra­ba­lha­dores e o povo da ori­en­tação con­creta em cada mo­mento para dar res­posta aos seus di­reitos e as­pi­ra­ções.

Aos ini­migos e ad­ver­sá­rios com­pun­gidos com a «in­co­e­rência» do PCP sobre os cons­tran­gi­mentos ex­ternos lhes di­zemos: sos­se­guem, não aban­do­námos nada, a vida está a dar-nos razão. Mas não jul­guem que nos cegam a ponto de pres­cin­dirmos de in­tervir, ce­dendo a um fa­ta­lismo pa­ra­li­sante que im­peça de ques­ti­onar, ainda que li­mi­ta­da­mente, o sen­tido geral que se quer impor como ca­minho único ou a deixar-nos em­purrar para uma re­sig­nação im­po­tente pe­rante cons­tran­gi­mentos que têm de ser com­ba­tidos e re­mo­vidos.

Aos que ci­ni­ca­mente se re­velam pre­o­cu­pados com a co­e­rência e cre­di­bi­li­dade do PCP, aos que con­fundem o poder que têm de nos fazer de­sa­pa­recer dos ecrãs de TV com a morte pres­sa­giada do Par­tido, lhes di­zemos que a prova de vida do PCP es­teve, está e es­tará sempre no en­rai­za­mento nos tra­ba­lha­dores e no povo, no seu com­pro­misso com a luta pela de­fesa dos seus di­reitos e as­pi­ra­ções, no seu pro­jecto e ideal.

 



Mais artigos de: Opinião

Sistema de Informações<br>– e agora?

Em Agosto de 2015, o TC declarou inconstitucional a tentativa do PS, PSD e CDS de permitir o acesso dos Serviços de Informações aos metadados de telecomunicações, o que a Lei apenas permite em processo crime (com controlo judicial), sem que daí resultem dificuldades na...

Liliana e os seus sete filhos

A história de Liliana Melo e dos seus sete filhos tornou-se conhecida quando o caso chegou à comunicação social, já lá vão vários anos. Cabo-verdiana a viver em Portugal há mais de duas décadas, Liliana não cometeu qualquer crime, mas em 2012 um...

Outras «torres gémeas»

Ao que parece, mais um gigante bancário – o Deutsche Bank – está a caminho de se afundar. Tem quase século e meio de história. Lénine menciona-o no texto fundamental sobre o imperialismo: é um exemplo paradigmático de como o monopólio surge dos bancos...

Os mentirosos

Há precisamente um ano, o governo do PaF produziu legislação arredando o Banco de Portugal da exclusividade de convidar compradores para a aquisição dos activos do Novo Banco, permitindo que a «instituição de transição» (ou seja, a...

Líbia, caos e história

A Líbia voltou recentemente às primeiras páginas dos jornais. Não por se vislumbrar saída para a trágica situação em que a criminosa agressão imperialista de 2011 mergulhou o país. Antes pelo contrário. O que se anuncia agora, a somar às...